segunda-feira, agosto 30, 2010

Preconceito: Limitação Cultural

   Em mais uma "viagem" a procura de algum conteúdo na TV, encontrei um canal que mostrava crianças de uma tribo indígena, que aprendiam a ler e escrever o português. O professor, também do mesmo povo, quando questionado, disse não se tratar de perder a própria identidade, mas sim de ter a capacidade de registrar informações que permitiriam um maior conhecimento sobre sua cultura, evitando até, que a mesma se perdesse.
   Aprender sobre uma nova cultura para que não se perca a sua própria... Tudo isso me abriu os olhos de um modo fantástico! Até onde vai nossa resistência com o novo, com o que o outro tem a nos oferecer?
   Seja por mania, costume, hábito, equívoco ou preconceito, condenar uma cultura é limitar a capacidade da própria evolução.
   Conhecer o que é novo nunca é negativo. Na pior das hipóteses, ganha-se o conhecimento. E por que não dizer o "auto-conhecimento", afinal, vivenciar algo, muitas vezes nos permite dizer com clareza do que se gosta ou não.
Maria Letícia  -  Jeito Xadrez
   O jeito xadrez talvez seja isso, escolher, mudar de direção, cruzar várias linhas para traçar um novo desenho; vários traços para fazer uma nova arte; as infinitas direções, a ousadia, o não acomodar-se em linha reta. O aceitar que até mesmo as linhas paralelas, que não se cruzam, seguem a mesma direção, num mesmo sentido.
   A chegada dos novos integrantes de "Maria Letícia" veio somar uma nova gama de rítmos, pela bagagem musical e influências das mais diversas, o que torna mais rica e sonora a expressão do grupo, que vê nas diferenças de cada um, a possibilidade de um todo melhor.
   Não é necessário que a individualidade se perca. A magia está em crescer sempre que há a oportunidade de experimetar uma nova cultura, acrescentando a nossa vida aquilo que houver de melhor em nossas descobertas, encarar erros como experiências válidas, e ter sempre a certeza de que a essência é imutável.

Música e Paz!

Foto por K!U.

segunda-feira, agosto 23, 2010

A Essência é Imutável

   Desde muito pequena, vejo em grandes meios de comunicação, principalmente em documentários das potências televisivas, o Vale do Jequitinhonha ser chamado de "Vale da Pobreza".
Destaque: Vale do Jequitinhonha/MG.
   O Vale do Jequitinhonha é uma das doze mesorregiões de Minas Gerais e é formado por 51 municípios, como Almenara, Araçuaí, Capelinha, Carbonita, Diamantina, Jequitinhonha, Minas Novas, Palmópolis, Pedra Azul, Santa Maria do Suaçuí, dentre outros. Está situado no norte do estado. A região, que inicialmente pertenceu à Bahia (até o final do século XVIII), foi incorporada ao estado de Minas Gerais, após a descoberta de diamantes no tijuco (região de Diamantina). É, de fato, uma região amplamente conhecida devido aos seus baixos indicadores sociais e também ao norte é conhecida por ter caracteristicas do sertão nordestino.
   Não faz muito tempo, eu via uma reportagem sobre o trabalho escravo e insalúbre. O repórter então, disse haver uma cidade, abandonada pelo tempo, e que chamou de "cidade das viúvas de maridos vivos", já que os homens da lá viviam em outros estados, no corte de cana. E eis que a tal cidade era no Vale do Jequitinhonha.
   Em uma introdução áspera, com expressões fortes, ele descrevia o Vale como um dos lugares mais pobres do mundo, com um povo castigado pela seca e pela fome. E mostrava aquele lugar, dando ênfase as ruas de terra vermelha, casas de barro e lampião a gás, onde a civilização não chegou.
   O que quer que seja maior, a rachadura dos pés de quem trabalha, ou do solo seco desse Vale, pouco me importa. O que de fato prevalece, são as histórias que surgem do atrito do contato entre os dois.
   Talvez, se aquele repórter parasse, por alguns instantes, de narrar os desafetos daquele lugar, ele teria ouvido o canto singelo das lavadeiras na beira do rio. Se parasse de repudiar o barro simples das paredes,
veria os pés ágeis e livres dos meninos que corriam atrás da bola de meia, que lhes dava a alegria mais sincera ao cruzar a linha do gol, marcada por um par surrado de chinelos de borracha.
   Ele dizia que aquele era o Vale que as pessoas das grandes cidades não imaginavam existir. E eu, dizia, comigo mesma, que ele nem imaginava o que existe nesse Vale, detentor de exuberante beleza natural e cultural, com traços sobreviventes da cultura indígena e da cultura negra. Aqui, existem Marias, Josés, Antônios, Joanas, mulheres, moleques, homens, meninos... Existe gente, força, e arte!
   O Vale do qual eu desejo falar, mora do outro lado da moeda. Se veste de cores, carrega tambores, e canta louvores ao Deus que o criou.

   A música nunca entrou na minha vida. Ela já estava lá quando eu nasci... Nas cordas do bandolim de meu avô Ulisses, nas cordas vocais de minha tia Eloisa... É muito nítido pra mim a imagem da casa dos meus avós, com toda a minha família reunida, cada um com seu instrumento, e eu, ainda sem entender o que acontecia, correndo por entre pedestais e caixas de som com meus primos.
   O tempo passou, e fui descobrindo aquela musicalidade incansável, que, de repente, tomava proporções gigantescas dentro do meu peito.
   Volto a dizer que é muito forte a imagem do meu avô, quando falo da minha música interior. Quando me descobri musicalmente, eu morava na casa dele. E decidi aprender a tocar violão. Fazia aulas lá mesmo, com meu primeiro professor, Fábio. Meu avô, hora ou outra, interrompia a aula para dar palpites. Meu professor, então, teve que se mudar para outra cidade após um mês de aulas. Eu havia aprendido a fazer dois acordes e, nessa época, com 12 anos, fiz minha primeira música: Filho da Zabumba.
   Quando comecei a fazer aulas com o novo professor, eu entrei num universo mágico! Dessa vez, eu fazia aulas na casa de Tadeu Oliveira, que não só me ensinava novos acordes, mas me apresentou a Cultura do Vale do Jequitinhonha! Me mostrava CD's, me fez descobrir Paulinho Pedra Azul, esculturas de madeira de artistas do Vale. Me fez descobrir a vida nascida do barro de Lira, e a minha voz...
Coral Canta Minas, regido por Tadeu Oliveira

   Através do Tadeu, subi no palco pela primeira vez. Éramos em 15 pessoas. E na Casa da Cultura de Capelinha, em 2004, eu estava lá, entoando versos encantados da arte do povo do Vale! Por essa pessoa, mora em meu peito uma gratidão eterna. Tenho carinhosamente como meu "Pai Cultural", que desviou o meu olhar da imagem desgastada do Vale da pobreza, e me inseriu no Vale da grandeza cultural infinita.  
   Como eu gostaria que as pessoas descobrissem o Vale do Jequitinhonha como de fato ele é... Que vissem aquela imagem do barro trincado se tranformar nas imagens das bonecas e namoradeiras... Que vissem o sacrifício das mulheres de grandes trouxas na cabeça, se tranformar no ofício bonito do canto das lavadeiras... Que vissem os calos das mãos do trabalhador rural se tornarem causos, pra contar aos moleques, na beira da fogueira, na noitinha fria, calma, cheia de estrelas... E que conhecessem a voz de Verono, que tão bem cantou o amor ao Vale Jequi. Que conhecessem a voz de Pedro, que vai levando seu canto por novas fronteiras...
Artesanato Minas Novas

   Sempre me orgulhei de ser uma artista do Vale do Jequitinhonha. Para mim, não há no mundo, realeza ou título maior que esse! E minha dívida pessoal com o Vale, foi nunca ter feito uma canção pra honrar minha origem. Mas valeu todo o tempo que esperei, pois o resultado, não foi somente cantar o vale, mas minha própria essência.
   A essência é a parte imutável do ser. Ainda que eu viva em outros lugares, minha essência é do Vale. Ainda que o Vale sofra, sua essência é a pura arte.
   Espero que meu filho tenha a oportunidade de viver também os bons festivais, folias de Reis, e que um dia, veja a mulher que carrega na cabeça aquela pedra grande, em sacrifício, pedindo a chuva, pois nada, nem a chuva, nem a mulher, nem a pedra, nem a essência... Nada. Nada disso, me fugiu a memória.
  
Vale Encantado do Jequitinhonha... Onde é só gritar: Valei-me, Jequi!
E o "JequitiVale"...
Música e Paz!

Fotos:
"Mapa Minas", Wikipédia;
"Paisagem", por Alisson Zêra;
"Apresentação Canto Coral", Divulgação;

"Bonecas de Barro", por Maria Letícia.

domingo, agosto 22, 2010

Banda Maria Letícia

   "Maria Letícia", grupo formado por músicos do Vale do Jequitinhonha, que apresenta composições próprias, tem formação completa desde 15 de agosto de 2010, data em que fizeram o primeiro show, já como quinteto.
   Antes, como trio, com Maria Letícia, Marisa D'Carvalho e Homero Kaú, trabalhando com composições e arranjos dos mesmos, com um som acústico, agora contam com a diversidade e musicalidade de Gabriel Rocha, refazendo a história do grupo, e nova roupagem que as músicas ganham, a partir de então.
   No palco, o grupo faz uma verdadeira ciranda. Por serem todos compositores, cantores e multi-instrumentistas, revesam-se ao longo das apresentações, demonstrando grande capacidade e desenvoltura, tornando tudo mais agradável aos olhos e aos ouvidos de quem prestigia a arte, que é parte da essência de cada um.
   Pra quem já conhece o trabalho, acredito que torna-se evidente a qualidade ainda maior da musicalidade da banda. Para quem não conhece ainda, fica o convite para descobrir um pouco mais da trajetória desses cinco músicos que agora, juntos, prometem acordes ousados, arranjos bem elaborados, e um bom gosto musical incontestável!

BANDA MARIA LETICIA

  • Maria Letícia:

(VOZ E BACKING VOCAL)
 Musicista do Vale do Jequitinhonha, neta de Ulisses Batista, músico consagrado na cidade de Capelinha/MG. Teve o primeiro contato com os palcos por influência de seu professor de violão, Tadeu Oliveira, a quem tem carinhosamente como "pai cultural". Participou do "Coral Canta Minas" no projeto "É preciso Ousar Nesse Lugar" no ano de 2004, apresentando-se com o mesmo na Casa da Cultura e Café da Tarde. Marcou presença no Galpão Cultural (2004 a 2008, e 2010). Participação no Festival Gastronômico Jequisabor (Capelinha -2006/07 e Turmalina 2007). Em 2008, cantou na apresentação do Festivale (fevereiro) , e ainda na abertura e Mostra Musical do mesmo (julho/agosto), onde pela primeira vez mostrou seu trabalho como compositora. Voltou a participar do Festivale em 2010, ficando entre as 10 melhores composições, com a música "Essência". Fez ainda apresentações no Villa Cascais e importantes comemorações do Banco Bradesco e Rotary Clube. Atualmente, divulga o trabalho “Meu Jeito Xadrez”, canções que misturam ritmos e embalos resultantes da diversidade de suas influências. Orgulhosa de suas raizes, tras consigo a essência do Vale, agregada a cadência e estilo próprios.

  • Marisa D'Carvalho:

(VOZ, BACKING VOCAL, VIOLÃO 12 CORDAS, VIOLÃO 06 CORDAS, TECLADO)
Iniciou sua carreira em 1999 tocando em banda cover. Participou de vários eventos culturais, como Festur, Carboarte, Expoita e Festivale. Tem o domínio de vários instrumentos musicais e também compõe. Suas influências vão de grandes nomes da MPB como Ana Carolina, Cazuza; passando pelo Jazz e chegando ao Rock Progressivo nos nomes de Pink Floyd e Pearl Jam. Atualmente, é violonista da banda Maria Letícia e, em paralelo, trabalha em seu primeiro disco solo.

  • Gabriel Rocha:

(BAIXO)
Natural da cidade de Santa Maria do Suaçuí/MG, é baixista a cinco anos. Trabalhou com João e Ronaldo, João Paulo Kazak, Banda Delíriu's, Gerson e Nelson, Banda Kurtição, Banda Brother's, Ministério Aliança com Cristo, Banda Apocalípso, Banda Geração Urbana, Nego Brás e Banda, e mais recentemente com a dupla Maurélio e Daniel. Atualmente, contratado como endorser de marca de contra – baixo do sul do país.

  • Homero Kaú:

(VOZ, BACKING VOCAL, VIOLÃO 12 CORDAS, VIOLÃO 06 CORDAS, GUITARRA)
Nascido em Minas Gerais, músico desde os seis anos de idade. Estudou música erudita e popular no Conservatório Lobo de Mesquita na cidade de Diamantina. Tocou em várias bandas cover e aos 16 anos já se tornara profissional. Com influência dos melhores guitarristas do mundo, oferece um estilo bem próprio e original, juntando o country, o rock punk e hard core, com solos limpos e bem elaborados. Ajuda na criação de efeitos para bandas, trabalha como free-lancer, e trabalha na produção do seu primeiro CD solo. Suas composições são voltadas totalmente ao seu estilo forte e marcante, com pegadas firmes e objetivas.

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Grande abraço,

Música e Paz!

Fotos por K!U.