domingo, janeiro 09, 2011

Zuza Zapata

   Calma instantânea.
   Essa foi a sensação quando tive o primeiro contato com o trabalho dele, através da música "Azul Ameno". Consegui me transportar para um fim de tarde, de laranja suave, numa praia tranquila, som de mar e violão. Pois é... Seu azul ameno me levou ao laranja suave.
   E de fato, a medida em que me dedicava a ouvir mais músicas, descobria a gama infindável de cores, sensações e poesia, que habitam a arte desse moço.
   Conheci o Zuza em outubro/2009, logo no inicio da divulgação do meu trabalho no PalcoMP3. O próprio site, por meio das nossas influências, nos associou, e decidi então, saber do que se tratava. Eu não saberia descrever o que houve daí por diante. Mas saberia dizer o quanto me surpreendi a cada vez que uma nova canção tocava.
   Eu me apaixonei pelo trabalho dele! A paz, a suavidade, a poesia... Apressei-me em esboçar o quanto fui feliz de encontrá-lo! Ganhei um CD de presente (sem dedicatória, mas ainda em tempo. rs), e hoje o considero como uma grande descoberta musical, e grande amigo!
   E é com muito orgulho que apresento a vocês esse som, que não sei definir como samba, bossa ou MPB, mas, pura e simplesmente, como a boa música brasileira.



Zuza Zapata nasceu em Macaé/RJ, em 24 de novembro de 1983. Gostava de desenhar, criar histórias em quadrinhos, e sonhava cursar Arquitetura. Mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ para cursar Gravação e Produção Fonográfica na Universidade Estácio de Sá, onde conheceu Waltinho Carcará. As melodias de Waltinho são o perfeito complemento para os versos de Zuza, ora reforçando o que a letra pede, ora enriquecendo-a ao fugir do óbvio. O disco começou a ser gravado em março/2008 no estúdio Pinguim Rei, por Roberto Júnior (técnico, produtor, e também colega de faculdade). O final da gravação, em abril/2009, aconteceu no estúdio Azul, de Márcio MM Meireles (músico e produtor). Os músicos tiveram total liberdade para criarem em estúdio, por não haver arranjo escrito. Apenas na mixagem, feita no estúdio Pente Fino por Roberto Júnior, é que a forma final de cada música acabou sendo decidida. Meio a fervilhante cena da música brasileira, surge Zuza Zapata: sonoridade peculiar, arranjos modernos e muita poesia.


Jeito Xadrez entrevista: Zuza Zapata.

JX: Qual a origem do nome "Zuza Zapata"?
ZZ: O "Zuza" foi um apelido que ganhei quando eu tinha uns 14 anos. Conheci um grupo de pessoas e comecei a andar come eles, e como não sabiam meu nome, alguém começou a me chamar de Zuza... Talvez porque no dia eu estava com uma blusa onde estava escrito "Cazuza". Acabei adotando o Zuza como apelido. O "Zapata" veio depois. Um belo dia acordei com esse nome na cabeça: "Zuza Zapata" e achei bacana. Comecei a assinar minhas criações dessa forma.

JX: Alguma relação com o líder revolucionário Emiliano Zapata Salazar?
ZZ: Muita gente já me perguntou isso, já pensou isso. Mas não tem nenhuma ligação com Emiliano Zapata nem com o movimento Zapatista. Foi mais uma combinação estética e sonora com o Zuza. E eu adoro a letra "Z"... (rs)

JX: Em que o Zuza de hoje se assemelha ao menino de Macaé?
ZZ: Acho que a vontade de fazer música... Viver da música... De continuar buscando uma linguagem minha de me expressar.

JX: Dos desenhos a música. Da Arquitetura a Gravação e Produção Fonográfica. Qual o fator desencadeante para que essas mudanças ocorressem?
ZZ: Acho que existe um divisor de águas muito claro na minha vida, que foi quando a música me fez arrepiar. Quando, mais ou menos com 14 anos, ouvi a música "O Tempo Não Para" do Cazuza, e logo depois descobri o rock. Quando experimentei aquilo, tive certeza absoluta que era aquilo que queria fazer pro resto da vida. Escrever letras de música e poesia.
JX: Além de Cazuza, quais os ídolos são referência ao seu trabalho?
ZZ: Acho que o Cazuza nem é tanto uma referência no meu trabalho. Sempre bebi muito mais na fonte do Lobão por exemplo, do Caetano, Tom Zé, e mais recentemente do Otto, Zeca Baleiro, Lenine, Céu...

JX: Grande parte dos ídolos por você citados são nordestinos. Mera coincidência ou a arte nordestina de fato te encanta de maneira especial?
ZZ: Geralmente, tudo que vejo vindo de lá, me emociona muito: Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, Cordel do Fogo Encantado... São Bandas maravilhosas, que realmente me encantam de maneira especial.

JX: Como nasceu a grande parceria entre você e Waltinho Carcará?
ZZ: Com o Waltinho foi algo especial. Nos esbarramos nos corredores da faculdade. Ele estava procurando onde seria a próxima aula. E dali o chamei para compor e começamos a fazer coisas juntos. Uma pena que há um bom tempo não nos reunimos para compor. Foi um cara que soube de cara entender o que queria passar com minhas músicas.

JX: Quando e como veio a idéia de produzir o primeiro disco?
ZZ: O projeto final da faculdade era produzir um disco com 03 músicas. Mas acabou que tínhamos bem mais que três músicas. E resolvi investir nisso.

JX: Quando você pegou o disco a primeira vez, qual foi a sensação? Dever cumprido?
ZZ: Mais ou menos (rs). Foi de frustração. Me deu uma sensação terrível de que eu tinha feito um trabalho muito ruim. Rolou o que chamo de "depressão pós-parto", rejeitei totalmente minha criação. Não gostava das músicas, do instrumental, da minha voz, das letras. Mas tinha que divulgá-lo. E quanto mais o mostrava, mais ia gostando, mesmo com as imperfeições que só eu notava. E depois de um tempo, me deu sim a sensação de dever cumprido. Na verdade, me deu a sensação de etapa concluída, mas que tinha muita coisa a ser feita ainda.
JX: Sentia falta dos palcos? Quando e como foi o primeiro contato, o momento em que você de fato encarou o público?
ZZ: Até gravar o primeiro disco eu tinha pisado umas três vezes no palco e de forma muito rápida. Cantando uma ou duas músicas. Minha primeira apresentação foi em 2010 e foi muito especial. Me senti em casa. Apesar do nervosismo inicial, tudo correu muito bem. E a partir dali a coisa fluiu bem. Meu último show foi o que mais gostei. Fiz algumas pequenas mudanças. No primeiro show ainda cantava sentado... Era uma coisa mais intimista. Talvez pela timidez. E os novos estão com uma pegada mais forte, me sinto mais eu, e a coisa acaba saindo de forma mais interessante.

JX:  Em canções como "Ista" e "Eu Não Rezo", você faz referências a uma "não-religião". Qual a sua fé? Quais as suas crenças e convicções?
ZZ: Eu sou de família evangélica, mas não acredito em religião. Apesar de entender a importância dela para algumas pessoas. Creio em Deus de uma forma minha, bem pessoal mesmo. Tem um poema do Fernando Pessoa que gosto muito, que diz:
"Mas se Deus é as árvores
  E os montes e o sol e o luar,
  Então acredito nele,
  Então acredito nele a toda hora
  E a minha vida é toda uma oração e uma missa
 E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos"

JX: Quem são seus ídolos literários? Eles influenciam de forma direta em seu trabalho?
ZZ: Eu gosto muito de ler biografias, e a vida das pessoas que leio influenciam na minha vida, e com isso acaba influenciando na forma que escrevo. Além disso, gosto muito de ler poesia... Gosto muito do Drummond, por exemplo. Sempre ando com um livro dele na mão.

JX: Já ouvi você dizer algumas vezes que você é um "letrista metido a cantar". Já que há essa ligação com a literatura, por que cantor e não poeta?
ZZ: Boa pergunta. Eu penso em publicar algumas poesias também, futuramente. Mas acho que é um terreno um pouco diferente. A música dá uma liberdade maior, posso estar equivocado, mas tenho essa sensação...

JX: Quais os próximos planos para a sua carreira? O que vem por aí? Você já pensa na produção de um novo álbum?
ZZ: Sim, sim, sem dúvida. Já estou com várias letras prontas esperando para serem musicadas. Vou gravar uma nova agora e umas antigas com novos arranjos. Lançarei em um CD simples (sem encarte, caixinha de papelão), mais para distribuir mesmo. E já tô pensando em um videoclipe. Vamos ver o que acontece. No momento o que mais quero é fazer bastante show mesmo.

JX: O que você espera da sua carreira? Você consegue visualizar um limite, o lugar onde você quer chegar?
ZZ: A frase que sempre me vem a cabeça quando me perguntam isso é uma música do Max de Castro: "...na vida o que peço: viver da música que faço...".

JX: Zuza, nós agradecemos a você pela atenção conosco. Te desejamos sucesso. Música, Cor e Paz!
ZZ: Eu é que agradeço ao "Jeito Xadrez" por ter me convidado a dar essa primeira entrevista ao blog. E desejo sucesso e vida longa! Quanto mais gente divulgando música brasileira de qualidade, melhor fica. Grande abraço a todos!

   Para conhecer mais sobre o trabalho do músico Zuza Zapata, acesse: www.oinovosom.com.br/zuzazapata

  
   Voltamos na póxima semana com mais dicas no Mosaico Cultural!



Fotos: Ludimila Roumillac e Léo Chaves.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe-nos sua mensagem, seguida de seu e-mail.
(E-mail é opcional)