terça-feira, abril 19, 2011

Vinícius Calderoni

   Um dia desses, numa dessas aventuras de acordar tão cedo, correndo atrás do meu filhote, ouvi uma voz tão encantadora, que desviou minha atenção e não me permitiu mover nem mais um passo sem descobrir de quem se tratava.
   Vinícius Calderoni. Falava de seu trabalho como músico e cineasta em um programa na Rede Globo, do qual não me recordo o nome. Aliás, não me recordo de muitas coisas. Era ainda muito cedo e eu ainda lutava pra permanecer de olhos abertos. Fato é, que não pude esquecer aquela voz, e guardei seu nome, pra descobrir um pouco mais sobre esse moço, e sua arte inigualável.
   Conheci o CD, as músicas, e a cada descoberta sobre a trajetória desse menino com história de gente grande, eu passo a admirá-lo mais.
   É uma honra apresentar a vocês o talento, a arte e a voz encantadora de Vinícius Calderoni!


Vinícius Calderoni é natural de São Paulo/SP. Aos nove anos de idade, passa a ter aulas de musicalização na Domus (escola de música paulistana), tendo Pedro Mourão como professor. Na mesma época, começa a escrever suas primeiras letras de música, peças teatrais e roteiros para cinema. Após longa parada, retoma os estudos musicais na Domus, aos 13 anos, tendo novos professores, como Akira Ueno, Renato Epstein e Chico Pinheiro. Em 2001, depois de diversas tentativas de seu primo Ricardo Calderoni (aquela época cursando violão na faculdade Santa Marcelina) e de seu tio David Calderoni (antor, compositor e violonista), começa a tocar violão para dar vazão a composição de suas canções. No mesmo ano, monta três bandas (Discurso Indireto Livre, No Ar e Na veia e Cafetão Planeta), e se apresenta em seu colégio e em diversos festivais inter-escolares, chegando a executar músicas de sua autoria. Compões, em seu primeiro ano como compositor, "Crédulo" e "Palhaçada". No ano seguinte, monta outra banda (Som Silvestre), que só executa canções próprias, sendo a maioria das canções, parcerias de Vinícius Calderoni com seu amigo Fábio Lyra (hoje também músico). Em 2003, ingressa no curso de cinema da FAAP e no curso de história da USP, lugares onde fará grandes e decisivas amizades, estabelecendo novas parcerias. As primeiras duas músicas de sua autoria gravadas são lançadas no cd "Regeneração" de seu tio David Calderoni: "Na Certa", com letra de Vinícius e música de David; e "Maná", com música de Vinícius e letra de David e Vinícius. Também em "Maná", divide os vocais com David e na última canção do disco, "Pra Vinícius", contribui tocando pandeiro. Inicia aulas de violão com o grande violonista Ulisses Rocha, que terá papel fundamental no início da carreira de Vinícius Calderoni. Em 2004, monta com os amigos que conhecera no Colégio Santa Cruz, Tó Brandileone e Dani Gurgel o quinteto "Quincas", também formado por Gustavo "Suza" Suzuki, outro amigo do colégio Santa Cruz, e Pedro Henrique Manesco, antigo colega da Domus. A banda, que tocava um repertório variado de música brasileira, se apresenta em diversas casas de show paulistanas como o "Café Piu Piu", executando muitas canções de autoria de Vinícius Calderoni. Estimulado por Ulisses Rocha e amigos, em setembro/2004, com 19 anos recém completados, seu primeiro disco. Participam inicialmente das gravações, o pianista Tiago Costa, o baixista Zé Alexandre Carvalho, o baterista Pepa D'elia e o percussionista Márcio Forte, além de Ulisses, que acumula as funções de violonista, guitarrista e produtor do CD. Começa a estudar canto com Lybra Serra, que também se torna responsável pela direção vocal do disco. Em 2005, dando continuidade a gravação do CD, faz, no "Café Piu Piu", seu primeiro show solo, com direção musical de seu amigo e parceiro Tó Brandileone. Por razões médicas, começa a frequentar a fonoaudióloga Silvia Pinho, que passa a complementar seu estudo de canto. Dirige dois curtas-metragem em seu curso de cinema da FAAP: "Entre Outros", co-dirigido com a amiga Daniella Saba, e "Cinzas", dirigido apenas por Vinícius. Pela constante troca de idéias e mais aclimatado ao ambiente de estúdio de gravação, é promovido ao cargo de produtor de seu próprio disco em parceria com Ulisses Rocha. Em 2006, conhece a cantora Fabiana Cozza, que grava uma participação especial em seu disco na faixa "Litoral". No mesmo ano, Vinícius faz participação especial em show de Fabiana, na temporada em que a cantora convida diversos compositores no "Grazie a Dio". Grava duas participações nos vocais no disco da banda paulistana "Trash Pour 4", cuja baterista Mariá Portugal é amiga de Vinícius desde os tempos da escola Domus. As faixas em que participa são "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque, e "You're So Vain", de Carly Simon. Finaliza a gravação de seu disco, com grande equipe envolvida. Conclui o curso de cinema. Seu disco "Tranchã" foi lançado em 2007.

Jeito Xadrez entrevista Vinícius Calderoni

JX: Vinícius, é um prazer recebê-lo no "Mosaico Cultural". Seja bem vindo!
VC:
O prazer é todo meu, de falar com vocês e com os leitores do Mosaico Cultural.


JX: Desde muito cedo você demonstrou interesse pela música, teatro, cinema... O que o despertou para a arte?
VC: Desde que me entendo por gente, sempre soube que queria ser artista. Não foi uma escolha: era a única possibilidade pra mim, nunca passou outra qualquer pela cabeça. Não saberia dizer o que exatamente me despertou para a arte. Meus pais e tios são admiradores de variados tipos de arte, tenho um tio cantor e compositor, sem dúvida tudo isso foi decisivo. Mas nas minhas lembranças mais remotas já havia esse desejo de fazer arte, e sempre um olhar abrangente, com interesse por cinema, música, teatro, cada vez um em maior destaque, mas todos com seu espaço.

Grupo 5 a Seco
JX: Quais são suas referências musicais?
VC: Essa é a pergunta mais difícil de responder. Acho que para mim e para meus colegas contemporâneos. Nossa geração, por causa da Internet, foi a primeira a ter um acesso quase ilimitado à música que se faz no mundo todo em diferentes épocas. Isso produziu artistas sem amarras, nem preconceitos, nem estilos preferidos. É claro que fui profundamente influenciado pelos grandes cancionistas da música popular brasileira, como Chico Buarque, Tom Jobim, Caetano, Gil, Milton, João Bosco, e milhares de outros. Contudo, amo uma infinidade de artistas, de Jackson do Pandeiro a Radiohead, de Camille a Jorge Drexler, de Emicida a Charles Mingus. Sem contar a influência que recebo de meus contemporâneos, como meus colegas do 5 a Seco e muitos outros amigos de geração.

JX: O nome de seu primeiro disco vem de uma citação do músico e compositor Chico Buarque. Por que a escolha desse nome?
VC: Quando crinaça ouvia muito minha mãe falando essa palavra e adorava a sonoridade. Quando procurava nome pro disco, ouvi essa palavra novamente cantada pelo Chico no show da turnê Carioca, na cançaõ Cantando no Toró. Fui atrás do significado e descobri que Tranchã era uma palavra a um só tempo sinônimo de coisas legais, bonitas, interessantes e também significava algo categórico, resoluto. O signficado, mais a história afetiva que a palavra possuía pra mim foram o bastante.

JX: "Tranchã" levou mais de dois anos para ser produzido. Foi de fato necessário tanto tempo, ou apenas por perfeccionismo?
VC: Foi uma junção de fatores:  a questão financeira, pelo fato do disco ter sido produzido de modo completamente independente; o fato de eu ainda estar na faculdade de Cinema na época, portanto fazendo filmes e projetos concomitantes; mas, sem dúvida, sobretudo, o longo tempo de produção foi necessário para o meu amadurecimento como artista, para experimentar texturas e sonoridades que traduzissem o que almejava, posto que iniciei a gravação do disco completamente inexperiente, com 18 para 19 anos. Nesse processo forma absolutamente vitais o Ulisses Rocha, diretor musical, produtor do disco junto comigo e um mestre musical sem igual e o Adonias Souza Jr., técnico de gravação e co-produtor do disco.

JX: Suas composições são muito marcadas pela inteligência de seus contextos e jogos de palavras bem elaborados. Ao que se deve esse tipo de criação?
VC: Agradeço pelas palavras generosas. Bem, acho que sou um apaixonado pelas palavras: por sua sonoridades, suas nuances, seus significados específicos, seus mistérios. Sempre gostei de escrever e acho que era inevitável que isso invadisse a seara das canções.


JX: "Das Bocas" é a música que você define como "a canção que me fez crer que eu poderia ser mesmo um compositor". O que a faz ter toda essa responsabilidade?
VC: Foi uma das primeiras canções que compus, ainda no segundo ano do Ensino médio, e a primeira que foi admirada por muitos amigos, sinceramente admirada, de modo que passei a acreditar que talvez as pessoas pudessem gostar e ter atenção às coisas que fizesse.

Bruna Caram e Giana Viscardi
JX: É comum encontrar trabalhos feitos por você em parceria com outros músicos, como em 2008, quando aconteceu no Tom Jazz o projeto Vinícius Convida Cantoras, além das participações em seu disco, e que você também faz com Dani Gurgel, Trash Pour 4, Tó Brandileone... Essa troca é essencial?
VC: Absolutamente essencial. Arte é encontro. O diálogo enriquece, você pode ir a lugares que nunca iria sozinho. Os projetos colaborativos são absolutamente fundamentais para mim.

JX: Você é formado em Cinema pela FAAP, tem dois curtas no currículo. Mas um trabalho bastante interessante, foi a produção dos 12 clipes de "Tranchã", onde você une o Vinícius cineasta ao músico. Fale mais sobre esse trabalho.
VC: Foi um projeto maravilhoso, espetacular. Doze amigos, jovens diretors de cinema, além de mim próprio que dirigi também um clipe, escalados para dirigir os clipes de todas as canções do repertório de Tranchã. O resultado, plural e surpreendente me orgulha profundamente. Depois, os clipes geraram uma temporada de shows, dirigidos pelo Rafael Gomes, meu parceiro e grande amigo. Eram shows multimídia, que fundiam música, cinema e teatro, tentando apagar as fronteiras entre essas artes. O resultado foi sensacional, algo de que muito me orgulho. Os clipes, aproveitando o ensejo, podem ser vistos através do site www.os12clipesdetrancha.com.br ou youtube.com/os12clipesdetrancha

JX: Como tem sido a repercussão do seu trabalho, além dos limites paulistanos?
VC: Cada vez mais gente tem conhecido e entrado em contato fora de São Paulo, sobretudo depois do início do 5 a Seco, o que me deixa imensamente feliz. Pretendo lançar um disco novo solo em março de 2012, e viajar bastante por vários desses lugares no Brasil.

JX: Hoje, já depois de algum tempo com o disco e fazendo a divulgação desse trabalho, eu gostaria de saber na lata, no que você bota fé? Com o passar do tempo mudou muita coisa em sua visão? As coisas se mostram menos ou mais fáceis do que o esperado?
VC: Boto fé, cada vez mais, no trabalho consistente, feito de coração e com generosidade. Não há possibilidade de um trabalho tenaz e bem-feito não alcançar seu espaço, demore mais ou menos. Acho que um artista tem que estar constantemente em movimento, sempre construindo e solidificando seus projetos. Acho que o que deve mover um artista são coisas a dizer e não vontade de fazer sucesso. Percebo também que os artistas que mais me interessam, e do qual espero fazer parte, são aqueles que tentam borrar as linhas fronteiriças entre as artes.


JX: Algum novo projeto em vista para os próximos tempos?
VC: Muitos. O 5 a Seco grava dvd e cd em Junho no auditório Ibirapuera e lança no final do ano. No segundo semestre gravo meu novo disco solo para lançar em Março de 2012. Estou também escrevendo uma peça teatral e acabei de traduzir outra que pretendo montar no sgundo semestre de 2011 ou no início de 2012. Com o Tó Brandileone acabei de terminar também mais uma trilha sonora para teatro, a nossa segunda, sendo que fizemos também uma para cinema. Enfim: projetos não faltam, graças a Deus.


JX: Vinícius, eu agradeço muito pela atenção que teve conosco desde o começo. Esperamos que você esteja em breve em Minas Gerais, pra que nós possamos conferir de perto esse trabalho singular que você faz tão bem! Sucesso, música e paz!
VC: Eu é que tenho a agradecer muito o carinho e a atenção. Espero também estar em Minas Gerais em breve, estado que eu adoro. Um beijo grande a vocês!



http://www.viniciuscalderoni.com.br/

2 comentários:

  1. Adorei a entrevista...Obrigada por me apresentar o trabalho, um pouquinho do artista...estou me aventurando nos clipes e adorando o contato!!

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  2. Ótimo texto. Sou super fã do Vinicius Calderoni.
    Parabéns!!

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